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A revolução do som no cinema


Don Lockwood ( Gene Kelly) chega sorrindo ao lançamento de mais um filme ao lado de Lina Lamont (Jean Hagen). Eram famosos na Hollywood dos anos 1920, por estrelarem vários filmes de sucesso naqueles tempos de cinema mudo. Assim começa um clássico do cinema: Cantando na Chuva (Singin’in the rain), que retrata a transição dos filmes mudos para os sonoros.


Essa revolução tecnológica exigiu muito de técnicos e atores. O primeiro filme sonoro foi “O cantor de jazz”, em 1927, lançado pela Warner Brothers. O revolucionário sistema sincronizado era o Vitaphone, que permitia que o som fosse gravado num disco e, eletronicamente, vinculado e sincronizado com o projetor do filme. Muitas vezes ocorriam falhas, mas a novidade tinha vindo pra ficar.

Muitos artistas precisaram trabalhar a voz e aprender a cantar de verdade, como é mostrado em “Cantando na Chuva”. Ao mesmo tempo, os estúdios precisavam se adaptar, a começar pelos ambientes de filmagem. Foram construídos galpões para as gravações isolando as falas dos atores dos ruídos e de outros sons externos.


Os microfones existentes tiveram que ser adaptados e os atores treinados em novas formas de interpretar para gravar as cenas com desenvoltura e qualidade. Era preciso que os diálogos fossem inteligíveis e, com isso os coachs passaram a ter um papel importante na preparação do elenco. No filme tudo se ajeita, mas na vida real muitos atores ficaram desempregados, inclusive há registros de suicídios e alcoolismo no mundo do cinema daquela época.


Os roteiristas também tiveram que se reinventar para criar cenas com mais diálogos e não só com falas curtas que apareciam escritas na tela para o filme mudo. Havia mais palavras nos textos e uma grande preocupação com os sotaques e a pronúncia, o que fez com que fonoaudiólogos também fossem chamados na preparação dos atores.


Paralelamente ao desenvolvimento dos recursos para sonorização, as técnicas e equipamentos de filmagem também foram sendo aperfeiçoados. A câmera teve que ter uma proteção, espécie de cabine de madeira, por causa dos barulhos das engrenagens. Outro exemplo é que no cinema mudo, o negativo do filme era totalmente aproveitado para gravação das imagens. Com o advento da sonorização, parte desse negativo era reservada ao som. Um grande desafio era sincronizar esse som já gravado com o filme editado, uma vez que o negativo era cortado e montado na edição final. Todo o processo foi sendo refinado, até o que temos hoje.


Essa revolução tecnológica propiciou a divulgação do trabalho dos grandes compositores e de trilhas sonoras que contribuíam para a valorização das imagens e o enriquecimento do enredo. Os amantes da música passaram a ter outras oportunidades fora dos teatros e recitais em casas especializadas. O cinema ganhava, assim, novos públicos.



O roteiro de “Cantando na Chuva” foi escrito apenas depois de selecionadas as músicas, tal a importância de retratar essa revolução da sonorização. Cenas de romance e disputas por espaço profissional são permeadas por outras que mostram a busca da inovação, as dificuldades advindas da implantação do som e os resultados obtidos na Hollywood dos anos 1920.


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