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Laranja Mecânica: apologia ou crítica à violência?

Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), de Stanley Kubrick, é de 1971. Mas foi liberado no Brasil em 1978, quando o país começava a transição do período da ditadura para a redemocratização. O filme foi baseado no romance de Anthony Burgess de 1962, lançado aqui em 1972.


O livro não foi objeto de censura, o que causa estranheza, já que é ainda mais “forte” ou polêmico que a versão cinematográfica, especialmente porque as personagens literárias têm entre 10 e 15 anos. Anthony Burgess o escreveu ao retornar de uma viagem para a Malásia. Ao chegar em Londres, ele se espantou com a violência das gangues infantojuvenis.



Trata-se de um romance de formação, quando a narrativa reconstitui a trajetória de uma personagem desde a juventude até a maturidade. Geralmente esse tipo de enredo tem um final feliz ou com alguma “moral da história”. No último capítulo do livro, Alex abandona a violência, pensa em se casar e ter filhos. Mas Kubrick fez diferente e deixou o fim e o destino do protagonista “em aberto”.


O professor, cientista social, doutor em sociologia, Sérgio Adorno, explica numa entrevista que é preciso um estudo denso sobre a estética da violência que pode ser entendida como um modo de vida, uma maneira de comunicação ou ainda uma linguagem repleta de significações.


A temática de Laranja Mecânica é a ultraviolência, mas não somente. Aborda também a dualidade entre humanização e desumanização no combate à própria violência. Isso fica mais claro quando Alex é submetido ao “tratamento” do Estado para tentar “recuperar” criminosos, o que abre espaço para a questão da liberdade de escolha e do controle governamental.


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O professor doutor Sérgio Euclides, debatedor do Projeto Cine UniCEUB no dia 19 de junho junto com o professor mestre Paulo Rená, salienta um deslocamento perturbador: a comunhão entre violência, sexo e arte na composição do personagem Alex De Large. Ele é erudito, teve acesso a educação e cultura, ama clássicos como Beethoven e narra a própria história por meio da estetização da violência. Para o pesquisador, esse desvio permite o debate sobre a importância e função da educação na sociedade, e até mesmo a atual discussão sobre a redução da maioridade penal.



Laranja Mecânica foi indicado a melhor filme, direção e roteiro adaptado no Oscar de 1972. Porém, pouco depois do lançamento, o diretor e familiares passaram a ser ameaçados, pois o cineasta foi acusado de incitar a violência. Então, a pedido de Kubrick, as exibições foram suspensas e somente voltaram para as telas britânicas em 1999.


Toda essa polêmica se justifica, já que é impossível sair do filme da mesma forma como se entrou. Ele possibilita reflexões sobre o tipo de sociedade em que queremos viver e amplia o debate sobre a ineficácia do uso da violência no combate da própria violência, seja entre indivíduos ou do Estado.

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