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“Somos todos iguais, braços dados ou não”


Os tempos eram turbulentos, a liberdade relativa, as lutas, muitas. O ano era 1969, o país era um Brasil governado por militares.


Baseado no livro “O que é isso companheiro? ”, de Fernando Gabeira, o filme homônimo dirigido por Bruno Barreto conta a história dos integrantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e da Ação Libertadora Nacional (ALN) quando, em luta contra o regime militar, sequestraram o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em 1969. Em troca do diplomata norte-americano, exigiam a libertação de companheiros presos.

Quase um ano antes, em dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva, foi instituído o Ato Institucional nº 5, AI-5, que endureceu o regime militar. Em julho de 1969, Caetano Veloso e Gilberto Gil embarcaram para o exílio na Europa em pleno movimento da Tropicália. A música "Pra não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, tornou-se uma espécie de hino de resistência dos movimentos estudantil e civil, e foi censurada numa tentativa de calar as vozes dissonantes na ditadura.




Esses tempos eram de meias palavras, ideias escondidas entre versos e prosas. E, nesse contexto, os movimentos revolucionários buscavam ações de impacto que forçassem o regime a reconhecê-los. Retrato de um período conturbado do país, a produção de 1997 tem diálogos tensos e mostra que todos sofrem numa ditadura, independentemente do lado em que estejam. Presos, mortos, perseguidos, aliados, delatores, exilados. A história era construída entre o sofrimento e o sonho de liberdade.


A ideia do sequestro partiu de Paulo, codinome do personagem do ator Pedro Cardoso, que representa o próprio Gabeira, protagonista e autor do livro. Luiz Fernando Guimarães é Marcão, nome de guerra do jornalista Franklin Martins, que na época integrava o grupo. Com diálogos curtos e olhares e expressões de medo, a apreensão se manifesta também em gestos e silêncios permeados pela música de Pietro Mascagni, Intermezzo sinfônico, e pela canção de Chico Buarque, Madalena foi pro mar, dentre outras.


Pequenos detalhes mostrados pela câmera permitem sutilmente perceber intenções, carinho, alegrias pelas conquistas e sofrimentos dos personagens. O foco nas mãos de Maria (Fernanda Torres) recortando endereços de apartamentos que poderiam se tornar novos “aparelhos”, a breve cena em que Reneé (Cláudia Abreu) ajuda o embaixador sequestrado a fazer a barba, a expressão de Paulo (Pedro Cardoso) ao saber da morte do amigo e companheiro de luta Oswaldo (Selton Mello) mostram o cuidado do diretor em registrar ações que mais tarde teriam desdobramentos e a humanidade dos personagens. Em meio a essa guerra, é possível ainda ver nascer o romance entre Maria e Paulo.


Num jogo de gato e rato, inteligência e contra inteligência, informação e contra informação, esse fragmento da história recente do país estimulou outros sequestros. Muitos dos brasileiros presos foram trocados por sequestrados ilustres. A liberdade tão desejada era usufruída em outros países, e o mesmo aconteceu também com os integrantes do grupo que sobreviveram à prisão. Reunidos no embarque para a Argélia como exilados, eles tinham corpo e alma marcados pelas consequências das escolhas que fizeram. O regime militar acabou 20 anos depois daquele sequestro, mas os brasileiros continuam “Caminhando e cantando/ E seguindo a canção/Aprendendo e ensinando/Uma nova lição”, em busca da democracia.


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