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Isabel Allende e a força feminina que transcende a realidade

O filme “A Casa dos Espíritos” (The house of the spirits) é a adaptação do livro de mesmo nome da escritora Isabel Allende, jornalista e humanista, como ela se define. Nascida no Peru, em 1942, mudou com a mãe para o Chile ainda muito pequena. Começou a carreira em uma revista chamada Paula, depois trabalhou em TV e jornais, como o El Nacional da Venezuela, onde morou por alguns anos.


A história foi escrita com base em cartas enviadas por Allende para o avô no início dos anos 1980. Ele estava muito doente e ela não vivia mais no Chile, em razão da Ditatura Militar. Em 1993, o livro foi adaptado para o cinema e estreou em Londres, com um elenco de grandes estrelas da atualidade: Vanessa Redgrave, Meryl Streep, Glenn Close, Jeremy Irons, Antonio Banderas e Winona Ryder.

http://www.isabelallendefoundation.org/

Defensora dos direitos das mulheres, a escritora intensificou a atuação feminista após a precoce morte da filha, Paula, em 1992. Quatro anos depois, criou a própria fundação para promover diversos programas de proteção para crianças e mulheres. É principalmente sob essa perspectiva de gênero que o filme se desenvolve, com muitas reflexões sobre violência doméstica, lutas de classes, espiritualidade, liberdade e conservadorismo.


Clara, personagem de Meryl Streep na fase adulta, assim como a autora Isabel, escreve tudo o que se passa. Os pensamentos da protagonista são registrados em diários herdados pela filha Blanca, registros que conduzem a narrativa.

A trama de mais de duas horas tem início, meio e fim bem definidos, desde a infância de Clara até a velhice. Os acontecimentos históricos e sociais ocorridos no Chile (país não mencionado no filme, apenas no livro) na década de 1970 fazem parte da história e interferem na vida dos personagens. Isabel Allende, aliás, é sobrinha do presidente chileno Salvador Allende, retirado do poder por um golpe de Estado em 1973. O fato faz parte do enredo e serve como gatilho para o processo de “redenção” do anti-herói, Esteban Trueba.


Esteban é o marido de Clara. Ele representa a figura masculina branca, conservadora, rude, determinada e, às vezes, cruel, mas capaz de mudar. Ele é o reflexo das estruturas de dominação da sociedade da época, ainda atuais, o que justifica a necessidade de continuar a discussão sobre os papéis sociais que homens e mulheres desempenham.

O filme evidencia a força feminina, especialmente nas relações entre elas - mães, filhas e netas. Também destaca a sabedoria transmitida de geração em geração, por meio dos diários de Clara e dos “poderes sobrenaturais” de antever o futuro e conversar com espíritos. Tal condição inclui a história na categoria do realismo mágico, tido como um movimento literário que reagiu, via linguagem, contra os regimes ditatoriais ocorridos na América do Sul. Trata-se da mistura de fatos reais com elementos sobrenaturais, em que “o inverossímil se submete aos princípios das convenções e da mentalidade comunitária.” (GOULART, 1995, p. 28) A clarividência da personagem Clara é uma das maneiras encontradas para resistir e se opor à opressão sofrida pelas mulheres.


A história é toda contada a partir da percepção das personagens femininas, repleta de simbolismos como os nomes delas: Clara, Blanca e Alba, três gerações da mesma família, todas fiéis aos próprios sentimentos, o que também parece ser uma das características mais marcantes da história da escritora.


Para conhecer um pouco mais, assista ao documentário sobre a vida de Allende (em espanhol com legendas em inglês):

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