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O Grande Ditador

Tenho receios muito fortes sempre que vou a um evento assistir a um grande clássico. Primeiro porque tenho medo de não compreendê-lo e não gostar. E segundo das pessoas presentes não conseguirem curtir a beleza de uma obra porque ela envelheceu. Na abertura da mostra Cine UniCEUB (da qual sou um dos organizadores), tive a segunda oportunidade de ver como o público reagiria a O Grande Ditador.

Após a Primeira Guerra Mundial, Adenoid Hynkel (Chaplin) toma controle sobre o país europeu Tomânia e começa uma caça aos judeus com o ideal de um mundo apenas de arianos. Entre os judeus do país, encontra-se um barbeiro idêntico ao ditador. Hynkel pretende atacar o país vizinho, Osterlich, para começar a tomada global ao mesmo tempo em que o barbeiro planeja fugir para lá com a namorada.

O Grande Ditador foi uma sátira ousada à política internacional. Realizado em 1940, em plena guerra contra o nazismo, o diretor clássico usou conceitos que ainda não estavam completamente formalizados. Principalmente quando discute os valores da democracia, união e liberdade. Foi, inclusive, um dos principais motivos pelos quais ele foi forçado a voltar para a Inglaterra mais tarde. Alguns anos depois, Charles Chaplin era considerado um comunista nos Estados Unidos.

Discurso final chama as pessoas a se unirem em nome da democracia. Corajoso.

Em termos de roteiro, O Grande Ditador é uma negação. A estrutura serve mais a esquetes rápidas do diretor/ator/produtor/compositor/roteirista, que à história. Entretanto, todos servem à crítica proposta. Seja a icônica dança com o globo terrestre inflável (uma alusão a um suposto fascínio de Hitler em dominar a Terra e como ele a destrói ao fazê-lo) ou o longuíssimo discurso de Hynkel em língua estrangeira (zombaria aos discursos de ódio de Hitler e à língua alemã). Todos sem utilizar de texto escrito. Mesmo em sua primeira incursão no cinema falado, Chaplin fazia humor mudo.

A fotografia e a técnica de direção de Chaplin é bastante simples. Câmera captura o cenário falso por um ângulo único. Beira o teatro. O palácio de Hynkel é transitado por apenas um lado. A mesma coisa com o gueto onde os judeus vivem. Os palanques só são vistos de frente e por aí vai. Mesmo assim, a exploração de cenário nunca deixa de funcionar. Apesar de um dos lados nunca ser mostrado, a câmera viaja entre os aposentos e cria a sensação de espaço contínuo.

O humor pastelão é atemporal. Basta que Carlitos fuja de um míssil que rodopia ou dance após levar uma panelada para que a risada no auditório surgisse fácil. E a discussão após a sessão com uma cientista política permitiu notar que o tema do filme ainda chama a atenção dos espectadores e é relevante.

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